
Mas vamos convir que nem sempre aquele início de namoro, o flerte, a paquera dão certo de primeira.
No caminho de nossas conquistas às vezes há alguns desencantos, que claro, jamais devem nos fazer desistir. Afinal, é namorando que podemos encontrar um amor para toda vida!
Hoje, para ilustrar um desses momentos em que as coisas não saem como deveriam, escolhi a poesia Namoro a cavalo de Álvares de Azevedo. O Jovem poeta que nos deixou muito cedo, aos 20 anos de idade, vítima de um tumor. Mas a morte prematura não o impediu de deixar como legado obras maravilhosas sobre a vida, o amor e seus desencantos.
Namoro a cavalo
Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo (três mil-réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela…
Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento…
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a Comédia- em casamento…
Ontem tinha chovido… Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafues encheu de lama…
Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rossinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada…
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela…
O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes, tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada…
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair, de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!…
Álvares de Azevedo